SANGUE, SUOR E LÁGRIMAS

...Assim passei o primeiro domingo de Sol em Escorpião e Lua Nova.

“Viver o agora no amor e na luz”.

Foi com esse espírito, e algumas feridas necessitando de cura que fui para o Templo de Shekinah. A busca por uma série de respostas talvez fosse o que estivesse me ferindo tanto. Mas descobri muito mais do que isso nesse domingo de “dia dos mortos”. Na verdade, eu mal prestei atenção na data. Não lembrava que era Finados. E Kali, a irmã de Shiva, esteve presente.


Kali e Shiva.

Minha cabeça, meu coração, meu corpo e minha alma estavam ansiando em iniciar uma busca profunda, obscura. E realmente, foi o que aconteceu comigo. A minha semana não foi boa... Acho até que magoei algumas pessoas sem querer. Minha energia não andava boa.

A pergunta principal, aquela que não quer calar, era: “como eu posso ser tão boa e merecer que tudo na vida tenha um jeito de andar para trás?” No meu raciocínio, a gente só tem aquilo que a gente merece, nem mais, nem menos. Então, se estou enfrentando problemas e tendo que ultrapassar obstáculos, algum motivo tem, não pode ser “de graça”. Essa foi minha busca. Então eu quis ir ao fundo do poço, para voltar aceitando melhor as coisas e “acelerando” mais minhas conquistas.

Preparação com amor e alegria no coração e na alma.


[OS 4 ELEMENTOS]

O templo infelizmente ainda não estava pronto quando chegamos. Mas em meio à arrumação toda, e participar desse processo foi muito gratificante, fomos, Atena e eu, tirar uma fotografia de um cogumelo lindo. Eu pressenti uma coisa. Disse a ela que os quatro elementos estariam presentes naquele ritual. Terra, somos nós, fogo, pela nossa fogueira linda, ar, pelo vento forte e seríamos selados com uma chuva, representando água, ao final do ritual.





[SANGUE E SUOR]

Buscar nosso lado obscuro não é nada fácil. Eu mesma me assustei bastante com as minhas dimensões mais baixas. Enxergar tanta coisa de dentro do seu ser sem ficar apavorada foi realmente um grande desafio. Logo na primeira comunhão, eu me vi em um local vulcânico, queimando, pisando em lava... Na medida em que meus pés derretiam nessa lava, meu corpo sentia o vento quente e um cheiro insuportável de carne queimando, carne podre. O vento trazia pequenas pedras flamejantes, que criavam feridas... Conforme o vento ficava mais e mais forte, eu me desintegrava aos poucos, contorcendo a mente com gritos desesperados que vinham de dentro da alma. Sangue, muito sangue. “Vieste do pó e ao pó retornarás”. Mais adiante, quando meu espírito se desprendeu do corpo durante essa visão, ele foi levado novamente ao corpo reconstruído, dessa vez e um mar vermelho. Meus olhos ardiam muito. Nesse mar, eu podia enxergar claramente as mágoas e os rancores que por muito tempo estão guardados. Quanto mais eu nadava nesse mar, mais eu queria mergulhar... Cada mergulho representava uma lembrança que eu quero esquecer. De coisas horríveis que já me aconteceram e eu jamais comentaria aqui nesse diário. E, essas coisas horríveis me levavam a outras mais horríveis ainda. Até que eu cheguei na lembrança mais dolorida de todas. Ali eu revivi tudo de novo. As lágrimas eram incontidas de me ver novamente naquela situação, tão indefesa. E estar ali novamente foi assustador. E me ver de fora, passando por tudo aquilo novamente, sem poder me defender, foi extremamente doloroso. Compreendi que dali desencadeou-se uma maneira apaixonada de viver a minha vida. Tão apaixonada que eu me machuco. Porque eu não meço as conseqüências de cada coisa que estou determinada a viver. E percebi que foi dali também que saiu essa minha mania de querer ajudar todo mundo que está em crise. Mesmo que isso custe minha energia, meu coração partido, minha alma, minha proteção espiritual. A voz (que é a minha, sempre) me disse: “Você é a única que se fere. Claro, você já foi ferida inúmeras vezes, mas de uns tempos pra cá, você é a responsável por tudo isso estar acontecendo. Eu sou pura sedução, puro amor, inocente. Continue assim, só não seja inocente. Eu estou me machucando. Anteveja as prováveis conseqüências, avalie antes aqueles a quem eu quero ajudar e meça as energias de cada um antes de me entregar completamente a um evento ou situação por terceiros. Cuide de mim antes de cuidar de qualquer outro ser.”

Ainda imersa nesse mar, começamos um novo ritual e Kodoish estava no ar. A saudação aos antepassados. Eu ainda estava mergulhando, mas quando voltei à superfície do mar vermelho, esse mar transformou-se em um mar de arco-íris. Estava de frente para um portal lindo, com duas colunas brilhantes e unicórnios saíam cavalgando de lá. Eles se misturavam com outros animais aquáticos. Pude ver os golfinhos conversando com os unicórnios. Esse momento foi lindo. Abri os olhos.

Projeção do portal. Clique na imagem para ver maior.

Mas eu ainda estava buscando respostas. Dessa vez, resolvi não buscá-la do lado de dentro. Pedi a proteção da Deusa, e, ainda durante o Kodoish, perguntei sobre uma determinada situação que envolvia duas pessoas. Queria saber qual era o fim daquilo. Joguei a pergunta no ar, como que para um oráculo. E fui buscar a resposta. Na primeira imagem, essas pessoas apareciam num cenário de neve, gelado, porém lindo, pois uma esquentava a outra com o corpo, em uma linda pintura de carinho e cuidado. Por entender da situação, achei que aquela não poderia ser a resposta, já que, no plano civil, as coisas não andavam nada bem; pensei comigo: “acho que estou enganada, vou procurar mais um pouco”... O mar em que mergulhei dessa vez era de um azul profundo. Era um recife. E em meio a uma caverna de lindos corais brancos e cor-de-rosa, havia uma bolha gigante, com a figura dessas pessoas se entendendo mais uma vez. Elas estavam sentadas, olhando uma nos olhos da outra. E se admirando profundamente. Nesse momento, eu senti o corpo físico chacoalhar a cabeça em sinal de aprovação. Apertei mais os olhos e coloquei minhas mãos sobre o rosto. Caí em um túnel roxo e preto, que cintilava vez ou outra.

Esse túnel era uma descida, rápida, vertiginosa, eu senti tontura. Ao final da descida, eu estava em um local absolutamente cintilante, em tons de roxo. Um mar negro e roxo estava ao fundo, com peixes saltando. Senti uma imensa felicidade. A imagem dos dois seres congelou-se em uma cama de cetim, com ambos abraçados. Uma mulher estava grávida e nua. Não pude conter o choro copioso e físico. A cena toda foi incrivelmente linda.

Após esses momentos, voltei a abrir os olhos. Os insights desse ritual estavam vindo e indo com a rapidez de um raio. E seguiu-se uma seqüência de mantras lindos.

De repente senti o peso da naja negra em meu pescoço novamente. A voz me mandava dançar para me reverenciar. Era o mantra de Shiva. Saí do templo em busca da natureza lá fora, e dancei para saudar o meu Deus Shiva, que destrói o mal para construir o bem. Senti a grama nos meus pés. E o sol brilhava em minha cabeça. Abri os braços, formando um pentagrama. Ergui a cabeça e meu lenço cor-de-rosa balançava com o vento. O vento era forte. Muito forte. E a beleza da vida esquentou meu sangue.

Natureza em Shekinah.

A fogueira estava acesa do lado de fora. Saudei meu elemento pessoal e fiz uma prece silenciosa. Voltei ao interior do templo. Comunguei novamente e, ao tirar o tarot da reflexão dessa minha Shiva obscura, o arcano XV – O Diabo, foi a carta que me levaria a mais um estado de transe.

Tudo o que eu pude sentir foi intenso, grandioso, parecia que eu ia explodir em paixão e desejo pela vida, pelo mundo. A ambição adormecida despertou e meus olhos avermelharam-se. Suor. Muito suor. Vi-me em uma festa de casamento. A mesma do sonho de duas noites antes do ritual. Um homem me tirava para dançar. Esmeraldas. Ele me olhava nos olhos. Eu estava com um vestido vermelho, em cetim, os cabelos longos, a maquiagem pesada. Ele olhava. Só olhava, e com o pensamento, me chamava para dançar. Mas dancei só. Num salão que se esvaziava. Mais, e mais... A música não era um dos mantras do ritual. Era “Don’t Fear The Reaper”, em uma versão de Gus, só em violão e voz. Tirei os sapatos altos e comecei a correr em direção à porta. A música continuou me perseguindo. E, passando a porta do salão, entrei em um corredor, que ia clareando... Até chegar ao palácio de ouro e marfim de outra visão. Esmeraldas e rubis encontravam-se. O chão frio. O abraço com a essência foi completo. Muito amor. Paixão infinita.

[CURA]

Nesse ponto do ritual, a força era imensa. Anteriormente, havia perdido totalmente o fio da meada do meu trabalho pessoal, por conta de uma interrupção linda. Mas perdi o foco. E, naquela força gigante, o crescendo de emoções tomou conta de mim de uma maneira tão intensa que minha cabeça doeu, eu fiquei tonta e resolvi me deitar. Foi quando senti, novamente, o chakra raiz trabalhando, dessa vez em conjunto com o plexo solar. E no meu coronário, eu sentia entrar muitas energias. Boas. Abri as mãos e permiti que elas entrassem pelas palmas. Pelas pontas dos dedos. Deixei-me nos braços dos índios por algum tempo. Dessa vez, fui conduzida ao céu para receber minha cura, um céu laranja e roxo, e do meio de uma mandala forte, um portal de luz, mais unicórnios, dessa vez alados, saíam e vinham ao meu encontro.

Outros rituais de prosperidade aconteceram, e eu me perdi na leitura de uma das invocações porque encontrei uma frase ali que me prendeu. “Eu não sou pequeno, sou um ser grande de luz”. Minha crise de sábado tinha a ver com isso. Ao invés de continuar na invocação da prosperidade, me perdi nas palavras dessa frase. Lágrimas, muitas lágrimas. Todas as lágrimas do mundo por entender isso. Foi um recado dirigido especialmente a mim.

Momento inicial da invocação de prosperidade.


[HORROR]

Na última comunhão, eu voltei a ver minha desintegração. Voltei a ouvir as mesmas frases da voz. E vi outros seres que, um dia, também estiveram na mesma situação que eu. Vários seres, todos que eu não conhecia. Mortos, decompostos, cadavéricos, tristes. Atena me ajudou a atenuar a dor de tudo isso e a aflição das visões com suas pedras e cristais. Incrível que, após a colocação das pedras, por pior que fossem as visões (e eram muitas, de entranhas, pessoas explodindo, coisas horríveis mesmo), eu as via de maneira serena. Vi-me cortando os pulsos, me lacerando com uma lâmina. Mas mesmo assim, não me abati ou me aterrorizei.

Recebi os códigos arturianos.

Voltei a me deitar. Nesse momento, eu deixei a alma sair do corpo. Vi cidades, pessoas queridas, amigos e inimigos, todos me parabenizando. Havia atingido um novo grau de entendimento do “eu”. Ouvi palavras de ordem como “coragem”, “força”, “presença”, “vida”, “intenção”. E aí veio um monte de seres falar comigo. Eu não conseguia entender nada. Abri as mãos para receber algumas energias. Eram muitas, muitas vozes me falando coisas, essas palavras. Quando senti o corpo numa carga máxima de energia, outras vozes vieram me pedir para entregar mensagens, fazer favores... Eu não compreendi nenhuma mensagem, a não ser por uma bem clara, de que eu devia avisar a uma pessoa do plano civil de que ela está protegida, porém, que tomasse cuidado com o que estava lidando.

As vozes foram ficando intensas, mais altas, mais vozes ainda surgiram. A vontade era de gritar: “Parem de falar comigo!”

De repente essa torrente de vozes cessou. E ouvi o barulho da chuva lá fora. Era o último elemento, selando o trabalho daquele dia. Após o encerramento, confraternizamos do lado de fora, apreciando o pôr-do-sol e um portal que ficou aberto no meio do céu, enquanto as últimas gotas de chuva caiam dele.


Pôr-do-sol em Shekinah. O portal ao lado direito.

A lua nos saudando.

Obscuro. Forte. Lindo. Findou-se e eu saí mais forte. Eu posso sentir. Senti isso hoje. Muito.

Todas as fotos fui eu quem fez.

terça-feira às 04:18

1 Comment to "SANGUE, SUOR E LÁGRIMAS"

nossa... algumas coisas ai dão medo...uau! rs

bjus linda e tudo vai ficar bem, vc vai ver!
=*